Morte e Paixão de Jesus

Domingo de Ramos e a Paixão do Senhor

O evangelho deste Domingo de Ramos nos convida a celebrar dois acontecimentos: por um lado, a entrada de Jesus em Jerusalém: uma entrada triunfal como nos indica o evangelho de Marcos. Jesus é glorificado por uma abundante multidão com fé e alegria. Uma entrada aclamada com esperança por parte daqueles que acreditavam em Jesus.
Por outro lado, esta entrada triunfal se transformaria em poucos dias num caminho para a cruz e para a morte sofrida pelo mesmo Jesus no Gólgota; e que representa também um proêmio para o grande acontecimento Pascoal.

Muitas vezes nos perguntamos por que mataram a Jesus de Nazaré, e a resposta é muito simples: foi porque Jesus não aceitava as atitudes empregadas pelos chefes religiosos daquela época. Jesus foi claramente contra “a maneira que usavam a Lei e o Templo, a Deus e a Religião para oprimir o povo”.

Marcos narra esse grande acontecimento sofrido por Jesus, crucificado e morto pela nossa salvação, tocando nossa mente e coração para os grandes sofrimentos pelos quais passou Cristo por nos amar.

Entrando em Jerusalém, Jesus é acolhido e aclamado pelo povo como Messias: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” É a confissão alegre da nossa fé. A nossa fé é sempre luz, vida, força, alegria. Aquelas pessoas conduzidas a Cristo, inspiradas e mensageiras da verdadeira fé da humanidade que esperava o Messias, encontram Jesus, celebram, e aclamam com ramos nas mãos. Jesus gosta desta acolhida e desta fé, foi Ele mesmo que decidiu entrar em Jerusalém. Ele que é manso e humilde. Ele é verdadeiramente o Salvador, o Filho de Deus, vindo ao mundo para nos trazer o amor e a misericórdia do Pai. Também nós almejamos viver este dia revigorando toda a nossa fé, o nosso fervor, o nosso afeto a Jesus.

Mas este é também um momento de contrastes. Jesus gosta da acolhida, mas sabe que a sua glória acontecerá quando for pregado numa cruz: a sua grandeza é o seu amor infinito, o que o leva a doar a vida por todos. Enquanto o povo o aclama, os inimigos se preparam para capturá-lo a fim de condená-lo à morte. Jesus sabe que vai ao encontro da sua hora, Ele veio precisamente para isso! E ainda que humanamente sinta uma terrível angústia no horto das oliveiras, Ele sabe invocar e cumprir a vontade do Pai, que é o verdadeiro bem para ele e para todos nós.

O texto da paixão do Senhor não precisa nem ser comentado: é o relato dos fatos através dos quais chegou a cada um de nós a Redenção. Todo o mal, que se realiza sobre a terra, de alguma forma é concentrado naqueles fatos: a violência, a sede de poder, a inveja, a traição dos amigos, a covardia, a bajulação dos poderosos, a maldade, o insulto à dignidade humana, as insinuações, a mentira e todo tipo de maldade que o ser humano pode cometer tudo parece estar presente na paixão de Jesus.

Do mesmo modo, cada um de nós, muitas vezes, caímos na tentação, no medo, no egoísmo, na falha, como Pedro e como Judas. Temos, porém, de seguir o exemplo de Pedro: acreditar em Deus, no seu amor infinito, na sua misericórdia sem limites. O amor de Deus, mostrado na cruz é a nossa plena, contínua e eterna salvação! Mesmo quando cometemos erros, saibamos que Deus é maior do que o nosso pecado, e veio justamente para “tirar” os nossos pecados, para nos dar alegria e os frutos do seu amor.

Quando estava escrevendo esse texto, veio à minha cabeça que nós na Ordem de Pregadores também nos rebaixamos como Jesus. Exatamente no dia da nossa toma de hábito, um dos momentos mais importantes para a vida de um frade. O gesto de trocar de vestidura significa, “deixar o homem velho e transformar-se em um homem novo”. É uma atitude de muita relevância para todos que querem ser dominicanos. Se não nos entregamos de corpo e espírito não podemos ser um verdadeiro religioso. Como todos os frades que já estão na Ordem e os que querem conhecer- nos mais profundamente, tivemos que deixar coisas, pessoas, sonhos, para deixar guiar-nos e transformar-nos pela mensagem de Cristo e de nosso Pai São Domingos.

Porque todo crescimento humano e espiritual é graça de Deus, mas requer nossa parte de entrega e de renúncia. Só assim podemos realmente ser e viver como dominicanos que aspiramos a ser. Que esta mensagem nos ajude a celebrar com profunda fé os sacramentos pascais, a viver a semana santa em união com a paixão de Cristo, fazendo nossos os mesmos sentimentos que existiram em Jesus, e implorando a graça e a força da sua morte e ressurreição para todos nós.

A que esperas?